OS DOIS MALFEITORES
"Como explicar Mateus 27.44 e Marcos 15.32, onde se diz que os dois malfeitores crucificados com Jesus o injuriavam, e blasfemavam contra Ele, com Lucas 23.39,40, que afirma ser um só o blasfemador, e o outro não, antes censurava seu companheiro em defesa do Senhor, a quem fez o célebre pedido: 'Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino'?"
Não há dificuldade em conciliar estas passagens. Os evangelhos não foram escritos ao mesmo tempo, nem no mesmo local, nem destinados às mesmas pessoas: Ma¬teus, por exemplo, apresenta Jesus como o Messias, e foi endereçado primeiramente aos judeus; Marcos apresenta o Senhor como Maravilhoso, e destinou-se aos gentios; Lucas mostra o Mestre como o F'lho do homem, e teve endereço pessoal a Teófilo; João mostra o Salvador como o Filho de Deus, e é o Evangelho Teológico destinado a todos os crentes. Mateus e João foram apóstolos e tiveram a oportunidade de ver e ouvir melhor tudo o que se passou com Jesus, pois conviveram com Ele por mais de três anos; Lucas e Marcos não foram apóstolos. Para escrever seu evangelho, Lucas só o fez depois de haver-se "infor¬mado minuciosamente de tudo desde o princípio", 1.3. De Marcos, se diz que foi informado do que conhecera pelo apóstolo Pedro, talvez por não possuir conhecimen¬to e instrução suficiente do que ocorrera. É uma verdade conhecida que duas ou mais pessoas, ao presenciarem o mesmo fato, di¬vergem, ao descrevê-lo, mas essa divergência, quando não prometida, é benéfica, pois completa a descrição.
De fato, os Evangelhos foram escritos sem prévia combinação entre seus escritores. Desse modo, um descreve um fato que o outro não narra. Mateus e Marcos deram ênfase a que os dois ladrões que estavam sendo crucificados com Jesus blasfema¬vam e zombavam. E isso foi verdade, por¬que ambos estavam revoltados, pois julga¬vam que a crucificação de Jesus apressara a própria crucificação deles. Lucas, por sua vez, relata o sucedido, ou seja, a con¬versão de um dos malfeitores, enquanto o outro continuou com o coração endurecido e fechado para a grandiosidade da obra que presenciava. A descrição dessa minú¬cia que completou o ocorrido no Calvário foi citado pelo médico amado, Lucas, visto que se informara "minuciosamente de tu¬do". Desejamos enfatizar que esse comen¬tário em nada contraria a inspiração divi¬na das Escrituras. Na inspiração Deus usou também a ação dos escritores bíbli¬cos. Uma prova irrefutável disso são as próprias palavras de Lucas já citadas: "Havendo-me já informado minuciosa¬mente de tudo desde o princípio". Deus usou ainda a idéia do escritor, a sua instru¬ção, os seus conhecimentos, etc. Pedro, o pescador, não poderia jamais ser usado para descrever a sublimidade do Evangelho e a sua eficácia, como o foi Paulo, o apóstolo. Mas Deus, pela inspiração, fez com que a ação, o pensamento, a instrução do escritor bíblico fossem adaptados a re¬velar unicamente o plano divino, ao escoimá-lo de qualquer sombra de erro.
SOFRIMENTOS INCOMPREENDIDOS
"Por que o justo mesmo estando sobre a proteção de Deus sofre tribulação?"
O que devemos analisar de imediato é que a lei da semeadura e da colheita está em pleno vigor.
A Palavra de Deus preceitua que tudo quanto o homem semear, isso também ceifará. Não raro, sofremos apenas a conse¬qüência de nossa imperícia.
Todavia, existem casos que desafiam e anulam essa justificativa. Então, surgem as perguntas: "Por que sofre o justo?"; "Por que o cristão, protegido pelo amor de Deus, padece tribulações?"; "Por que o ím¬pio, que amaldiçoa e escarnece da divinda¬de parece vencer e prosperar em todas as coisas?; "Como explicar que alguém no vértice de sua comunhão, com Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, se veja de repente soterrado pela adversida¬de, pela tragédia e pela destruição?"
Estas perguntas não são novas. Foram sempre a arma maliciosa e cruel que os céticos e materialistas usaram, e ainda usam, para ridicularizar e pôr em dúvida a confiança e a firmeza dos fiéis, ao se encon¬trarem falidos e desamparados. Estas per¬guntas têm sido um dilema insolúvel até mesmo para os religiosos mais sinceros de todos os tempos. Nos dias de Jesus, após a realização de uma cura, indagaram-lhe os seus discípulos: "Mestre quem pecou para que este homem nascesse cego, ele ou seus pais?"
Ainda hoje prevalecem essas conjectu¬ras. "Sofremos porque nossos pais pecaram" - dizem uns. "Sofremos - argumen¬tam outros - porque nós mesmos pecamos em tempos remotos; pagamos dívidas anti¬gas, a fim de evoluirmos espiritualmente." Pergunta-se então ao próprio Cristo: "Terá o sofrimento caráter tão-somente negati¬vo?" Eis a resposta do Mestre Divino: "Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso aconteceu para que se revelasse a glória de Deus". E para que coisa mais positiva do que revelar-se a glória de Deus entre os ho¬mens?
O grande enigma do sofrimento dos jus¬tos é-nos impossível decifrar.
A par destas difíceis perguntas, há ain¬da quebra-cabeças como "Por que o Céu, sendo um lugar onde não entra pecado, foi justamente o berço da iniqüidade, com a rebelião de Lúcifer?", ou dilemas semelhantes a "Como podia Deus ser eterno, em termos absolutos e ao mesmo tempo deixar-se subjugar pela morte no Calvá¬rio?", ou ainda, "Como Deus, sendo um Deus de amor, permite um filho seu morrer incinerado num desastre aéreo, em plena viagem missionária?", são segredos que talvez nunca conseguiremos perscrutar nesta vida.
Entretanto, como a questão do sofri¬mento dos justos afeta decididamente o nosso dia-a-dia, rogamos a Deus que, pelo poder do seu Espírito Santo, rasgue novas perspectivas e descortine novos horizontes na compreensão e no entendimento do amigo leitor, a fim de que vislumbre, bem mais e melhor, as razões por que Deus per¬mite a provação.
De fato, temos de convir, quer queira¬mos ou não, que Deus não procede, em geral, e também neste caso, como nós gos¬taríamos que Ele agisse. Não é assim no mundo material, nem no espiritual. Os ter¬remotos e os tufões não são os seus meios ordinários, mas extraordinários. A razão por que Deus permite certas coisas, encon¬tra-se além das nossas conjeturas. Contu¬do, poderemos estudar suas obras na natu¬reza, e acharemos que concordam com as obras da sua providência: Mt 6.25-32. "Deus tem a eternidade perante si", diz santo Agostinho, e "pode esperar". O seu tempo não é limitado como o do homem, que, se tem alguma coisa a fazer, quer fa¬zê-lo logo, pois a noite vem. Porém, não é assim com Deus: Ele opera, em nosso pen¬sar, deliberada, segura e irresistivelmente.
Não devemos contar os anos de Deus como contaríamos os poucos dias a nós re-servados: "Não retarda o Senhor a sua pro¬messa como alguns entendem". O nosso fraco alcance, a profundidade do infinito e a sua extensão, lembram que os juízos de Deus são muito profundos. Aprendamos, portanto, que quando Deus trabalha, nin¬guém pode impedir; contudo, Ele trabalha como o eterno Deus: Jo 13.7.
ALELUIA
"Qual o significado da expressão 'Ale¬luia'?"
Com a grafia "allelujah", de origem aramaica e significando louvai ao Senhor, essa palavra passou à igreja cristã através da Versão dos Setenta. O termo original hebraico "hallelu-yahweh", louvai vós. "yah", forma abreviada de "yahweh", ocorre vinte e quatro vezes nos salmos e é variante de termos com a mesma significa¬ção que não parecem pertencer ao mesmo texto, mas incursões alheias durante a lei¬tura, por efusão da alegria espiritual do ouvinte, tanto quanto nos dias atuais se ouve em nossas reuniões. Por isso, ocorrem tan¬to no início como no meio ou no fim dos salmos, dando a entender que o tradutor registrou na transição o fato de se ouvirem essa palavra por ocasião da leitura. Pode também ser uma conclamação - ainda alheia - para que os ouvintes glorifiquem a Deus enquanto se faz a leitura, tanto no templo, como nas sinagogas, ou na igreja cristã. Essa expressão de fervor e gratidão espiritual encontram-se nos salmos 104,105,106,111,112,113,114,115,116,117, 118,135,136,146 a 150. A sugestão dos sal¬mos com a expressão Aleluia é que eram cantados em ocasiões especiais de adora¬ção nas sinagogas. "Os salmos 113-118 eram cantados na festa da Páscoa, do Pentecoste, dos Tabernáculos e da Dedicação, sendo que na primeira delas, os salmos 113 e 114 eram entoados antes das refeições, enquanto que os 115 a 118, após o terceiro cálice. (Conferir Mc 14.26.) Os salmos 135 e 136 eram entoados no sábado e o Grande Halel (SI 146 a 150), juntamente com o SI 145, eram entoados nos cultos matutinos" - HLE, Douglas. Em nossas igrejas, embora a maioria dos irmãos desconheça a etimologia da expressão, ficam movidos pelo Espírito Santo ao exclamá-la em voz alta, sentindo um reforço espiritual avivalista que vivifica as reuniões. As igrejas onde o louvor de Deus é cultivado per¬manecem ativas, enquanto que nos tem¬plos onde se combate o entusiasmo do po¬vo, há uma carência de vida espiritual. Portanto, louvai ao Senhor - Aleluia!
Fonte: A Bíblia Responde, livro este que contém, condensadas em suas páginas, aquelas respostas objetivas, bíblicas e práticas que satisfazem ao sincero desejo de milhares de irmãos, inclusive de muitos que, embora não tenham formulado por escrito suas perguntas, gostariam de que elas fossem respondidas. Abraão de Almeida, Geremias do Couto, Geziel Gomes, Gustavo Kessler, Hélio René, Mardônio Nogueira, Miguel Vaz e Paulo César Lima pesquisaram, oraram e dedicaram boa parte do seu tempo com o intuito de ajudar o grande número de leitores de "A Seara", ajuda esta agora estendida a outros milhares de leitores através desta obra.